domingo, 12 de fevereiro de 2017

Saci Pererê - Cem anos do Inquérito

O projeto Colecionador de Sacis, de Andriolli Costa, aproveitou os cem anos do "Inquérito sobre o saci", uma pesquisa popular realizada em 1917 por Monteiro Lobato nas páginas do jornal O Estado de S. Paulo, para lançar uma revista eletrônica inteiramente dedicada ao saci. Com capa de William Chamorro, possui 83 páginas e traz textos de Ana Paula Aparecida Oliveira, André Lima Carvalho, David Dornelles, Douglas Rainho, Egidio Trambaiolli Neto, Elizeu Batista Thomé, Elói Bocheco, Gastão Ferreira, Gláucia Santos Garcia, Itaércio Rocha, Jorge Alexandre, Lucas Baldo Fraga, Margareth Assis Marinho, Neide da Cunha Pinto, Olívio Jekupé, Ronaldo Clipper, Sérgio Bernardo, Tânia Souza, Victoria Baubier e Wallace Gomes. As fotos são de Douglas Colombelli, Gustavo Beuttenmuller, Jessika Andras, Leo Dias de los Muertos e Maurício da Fonte Filho, e as ilustrações de Adriano Batista, Alice Bessoni, Altemar Domingos, Anderson Awvas, Anderson Barbosa Ferreira, Bruno Lima, Fabio Dino, Fábio Vido, Fábio Meireles, Felipe Minas, Geraldo Borges, Giorgio Galli, Ícaro Maciel, Joe Santos, João P. Gomes de Freitas, José Luiz Ohi, Mikael Quites, Mil Araújo, Monteiro Lobato, Odoberto Lino, Rafa Louzada, Rafael Pen, Rodrigo Rosa, Romont Willy, Stuart Marcelo, Talez Silva, Thiago Cruz (Ossostortos), Ursula Dorada (SulaMoon), Vilson Gonçalves, Waldeir Brito, Webby Junior e William Chamorro.
Texto divulgação: “Em 26 de janeiro de 1917, Monteiro Lobato publica no Estadinho – o suplemento vespertino do jornal O Estado de S. Paulo um artigo intitulado Mitologia Brasílica. Nele, convocava os leitores a responder um breve questionário de três perguntas. Um Inquérito sobre o saci.
A resposta foi imediata. Lobato recebeu causos, contos e até poemas inspirados pela figura do negrinho perneta, escolhido por ele como um verdadeiro estandarte da cultura nacional. O duende empresta características trindade formadora da identidade brasileira, negros, índios e europeus. Traz o riso como enfrentamento, o deboche como arma. É o saci o mito que mais diz sobre nós. Sobre todos nós.
O material recolhido se tornou um livro publicado no ano seguinte: Sacy Pererê – Resultado de um Inquérito. Nele encontramos sacis de todos os tipos: simpáticos ou agressivos; com uma perna direita, uma perna esquerda ou até mesmo as duas. Sacis com rabos, com chifres, cascos ou orelhas de morcego. Um documento que nos lembra que não existe um só tipo de saci, nem mesmo trezentos. Sacis são infinitos, há um para cada crença.
Este marco tão importante na literatura folclórica brasileira também não está livre de críticas. O antropólogo Renato Queiroz, em Um mito bem brasileiro nos lembra que quem responde ao inquérito são principalmente pessoas letradas, assinantes do Estadão. Assim há uma predominância de histórias de estancieiros ou filhos de donos de escravos, o que privilegia a demonização de características tipicamente negras: o nariz, os “beiços”, o cabelo. Em estudos etnográficos em propriedades interioranas menos elitizadas, essas características quase não foram levantadas ao se falar em saci.
Os mitos, vale lembrar, são mutantes e mutáveis. Nenhum dicionário ou folclorista é capaz de cravar uma versão “verdadeira” de um ser que não habita o texto do vernáculo, mas sim vive no imaginário do povo. Assim, Lobato capturou com seu Inquérito um registro de seu tempo, um momento que mostra toda a riqueza de um personagem que diz sobre o Brasil de tantas formas diferentes.
Neste especial feito pelo Colecionador de Sacis para celebrar os 100 anos do Inquérito, não pretendemos repetí-lo. O que pretendemos é, assim como fez Lobato, mostrar o saci nas suas mais diversas formas. Como ele é, como ele foi, como ele pode ser. Como a linda arte da capa de William Chamorro faz transparecer, queremos mostrar vários retratos de saci. Tantos quanto possível.
Nossa missão, nestes 100 anos de inquérito, é mostrar como o saci ainda vive no dia a dia do brasileiro, mas em novas formas. O saci que some com o dedal da costureira e trança a crina dos cavalos é o mesmo que dá nó no fone de ouvido que fica no bolso. O mesmo que faz cair o 4G do celular. O Saci não ficou na roça. Passeia entre nós. Não está restrito ao dia do folclore nas escolas, nem às discussões contra Halloween que povoam as redes sociais. Saci não é discurso, é mito vivo.
Vocês podem encontrá-lo nos grafites pelos muros de São Paulo – e quero ver prefeito algum deixá-lo preso a um grafitódromo. Encontram nas músicas, nas histórias em quadrinhos, na literatura e até nos vídeo-games. Saci está nas brincadeiras, na cultura pop, nas histórias de nossos pais e que logo serão as de nossos filhos. Saci está aí. Basta encantar o olhar, abrir bem os ouvidos e escutar aquele assobio que arrepia a alma.
Esta revista foi feita com amor e carinho para todos aqueles que buscam esse encantamento. A distribuição é gratuita, o preço é que você leve as histórias que encontrar aqui adiante. Sua feitura também foi totalmente voluntária. Agradeço a todos os ilustradores, escritores e colaboradores que cederam seu trabalho com tanto entusiasmo para esta iniciativa. Incorporaram bem o famoso mote de trabalho em equipe da Sosaci: “Sacis de todo o mundo, uni-vos! Nada tendes a perder a não ser a outra perna!”.
Boa leitura e viva o saci!”

https://colecionadordesacis.com.br/2017/01/20/colecionador-de-sacis-apresenta-saci-perere-100-anos-do-inquerito/




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